Memória Patrimônio e história local
Histórico: “O registro mais antigo sobre a história da Capela de Nosso Senhor do Bonfim é de João Dornas Filho, em seu livro “Itaúna: contribuições para a história do município” de 1936. Segundo João Dornas, no ano de 1854, após terem construído o novo cemitério, os frades barbôneos, tendo Frei Eugênio de Gênova como principal líder, “se retiraram de Sant’Anna dirigindo-se a Carmo do Cajuru, onde pregaram missões e construíram a necrópole local. Antes de partirem, deixaranike air max 90 nike air max pre day nike air jordan 14 nike air max 90 max white shoes red and black jordan 1 nike jordan series 06 air max 95 sale max white shoes wmns air max 270 nike air jordan mid air jordan 4 military black air jordan retro 1 mid casual shoes nike air force jordan nike air max 270 men’s m recomendada(sic) a construção(sic) da capella(sic) de São Miguel, no interior do cemitério, e a construção(sic) da Capella(sic) do Senhor do Bonfim(sic), no monte ao norte do arraial. A Capella(sic) de S. Miguel foi edificada no ano seguinte por meio de esmolas, e a do Senhor do Bonfim, em 1854, pelo tenente José Azambuja. (1936, p. 31)
Naquele ano de 1936, João Dornas demonstra que o morro onde foi construído a capela dedicada ao Senhor do Bonfim, já passava a ser chamado de “morro do Bonfim(sic), embora algumas pessoas ainda continuavam a denomina-lo de morro de “Santa Cruz”, visto que neste lugar existia um “cruzeiro de data desconhecida” (1936, p.31).
Algumas curiosidades permanecem na memória coletiva de nossa cidade, em uma delas o próprio João Dornas Filho é quem nos relata, em que a Capela Senhor do Bonfim foi utilizada como lugar de esconderijo para um jovem chamado Evaristo Cunha, que lá se escondeu por recusar participar como combatente na Guerra do Paraguai (1865-1875). A participação deste combatente era uma participação “voluntária”, no chamado batalhão dos “Voluntários da Pátria” que partiram de diversas regiões do Brasil para combater os soldados paraguaios, e como Sant’Anna era distrito da Cidade do Pará que por sua vez estava aliada a Pitangui para formar o seu batalhão de “Voluntários da Pátria”, o jovem Evaristo Cunha resolveu se esconder para não ser localizado como membro “voluntário” e ficou por vários dias escondidos dentro da Capela do Bonfim (1936, p. 95).
Construída a pedido dos frades franciscanos, em pleno período imperial, a edificação possui características coloniais, com altura máxima de aproximadamente 6 metros (é o chamado pé direito). Quanto a sua cobertura sempre foi constituída de três partes, sendo uma na nave mais alta, outra no altar-mor e a terceira na sacristia. A cobertura da nave e do altar-mor são constituídos de duas águas, enquanto a sacristia é de uma única água. Todo este telhado está sustentado por frechal, – isto madeira de sustentação do telhado que apoia sobre a parede, com beiral encimalhados, isto é, revestimento de madeira que protege os caibros (madeiras) do beiral contra chuvas e sol. Durante o período colonial as cimalhas eram denominadas de eira e beira o que expressava o requinte e o poder aquisitivo do proprietário. A estrutura do telhado constituído de madeira é coberto de telhas de barro cozido (cerâmica – capa e canal).
As paredes desta Capela foram construídas em estrutura autônoma em madeira e alvenaria de adobe (tijolo feitos de barro e capim curados ao sol) revestidas de reboco. Estas paredes eram protegidas com caiação ficando em destaque a madeira que garante o travamento das paredes e evita o aparecimento de trincas provadas pela dilatação natural da estrutura das paredes.
A construção desta capela, neste estilo colonial simples, com algumas características jesuíticas, era composta por um altar-mor do tipo retábulo, isto é, junto à parede, todo em madeira e com ornamento simples, sem o rebuscamento do barroco. Sua construção, segundo consta na tradição oral e nos dizeres de João Dornas Filho – o grande escritor itaunense – foi de responsabilidade do coronel e fazendeiro José Ribeiro de Azambuja, que não só cedeu o terreno, mas também coordenou todos os trabalhos da construção da capela. Esta capela foi construída com a frente voltada para a Capela do Rosário e para a Matriz de Santana, ficando de costa para a estrada que ligava Santana de São João Acima ao povoado de Santo Antônio de São João Acima, hoje a cidade de Igaratinga. A construção desta Capela preservou a existência do Cruzeiro (da Santa Cruz) que lá existia. Este Cruzeiro foi substituído por um novo cruzeiro, construído de concreto na década de 1970.
A capela passou por inúmeras intervenções ao longo de sua história, sempre preservando suas caraterísticas originais. Os registros fotográficos existentes no departamento de cultura demonstram os cuidados dos cidadãos com a preservação de suas características arquitetônicas. O primeiro registro fotográfico da capela data de 1931 e a capela já se encontrava bastante degradada. Nesta fotografia não é possível observar se o Cruzeiro foi preservado ou não. O que sabemos, no entanto, é que na década de 1970 o antigo cruzeiro caiu, visto que seu madeiro havia apodrecido e que ele era já muito antigo. Podemos levantar duas hipóteses: a capela pode ter sido construída no lugar onde ficava o antigo cruzeiro, visto que ficava próximo à estrada que ligava Santana de São João Acima a Santo Antônio do São João Acima, ou a capela foi construída um pouco afastada do cruzeiro original e que não aparece na fotografia. O que sabemos com certeza é que na década de 1970, durante a administração do prefeito William Leão, em substituição da antiga cruz de madeira foi construído a cruz de cimento que permanece ainda hoje.
Outro registro importante é que, nesta época a capela sofreu nova intervenção, isto é, na década de 1970, e se encontrava em bom estado. O que nos chama a atenção é que durante mais de um século a capela, que provavelmente passou por inúmeras intervenções, estava em perfeitas condições e possuía todas suas características intactas.
Na década de 1980, na gestão do prefeito Francisco Ramalho, começou o estudo de se fazer nova intervenção na capela. Desta vez muitos elementos foram alterados, como podemos ver na foto da página 23. Embora tenha mantido a arquitetura típica do período colonial, foi feito uma abertura na parede da frente, logo acima das janelas (o óculo), foi instalado o campanário com seu sino, o lustre central for substituído, etc.
A partir da primeira década do século XXI a Capela do Bonfim foi sendo, gradativamente abandonada pela população. Isso ocorreu provavelmente pela mudança de hábitos da própria população. A grande festa da Santa Cruz, ocorrida de 01 a 03 de maio passou a não mais ser celebrada pela comunidade religiosa, nem incentivada pelos sacerdotes, restringindo apenas o uso da capela para a semana santa. Ao longo do tempo a ausência de prática religiosas foi deixando o espaço abandonado, que por este abandono, passou a ser frequentado por indivíduos que buscavam o local para uso de entorpecentes. Ao mesmo tempo o espaço foi sendo ocupado por enormes antenas de transmissão de rádio, televisão e Internet desconfigurando, pouco a pouco, o local. Este processo de relativo abandono e de ocupação indiscriminada teve seu auge com o incêndio da capela em 14 de outubro de 2014 que consumiu praticamente toda a capela.
O incêndio da Capela do Senhor do Bonfim funcionou como um grito para a cidade. Os católicos e muitos outros voltaram sua atenção para as ruínas e reacendeu o desejo de reconstrução deste símbolo histórico e cultural da cidade. As suas ruínas incomodava a todos e se tornou motivação de vários grupos que exigiam a sua reconstrução. Durante três anos este grito permaneceu e, enfim, foi ouvido.
Em outubro de 2016, teve início as obras de reconstrução do templo. A reconstrução da capela foi uma realização da Paróquia Nossa Senhora de Fátima, viabilizada pela parceria com o Ministério Público; Centro Mineiro de Alianças Intersetoriais – Cemais; Associação Regional de Proteção Ambiental – ARPA e Prefeitura de Itaúna. A entrega do templo à comunidade itaunense ocorreu no dia 26 de março de 2017 através de uma missa celebrada pelo bispo diocesano D. José Carlos Souza Campos, filho de Itaúna.
A partir desta reconstrução e desta entrega da Capela a população vem sendo incentivada a frequentar o local e as crianças das unidades escolares vem sendo instruídas a visitarem o local e conhecer sua história.”
Texto retirado do Caderno do Patrimônio Cultural de Itaúna: Bens Patrimoniais Tombados e Registrados. Edição 01, Itaúna: Codempace, 2017.