Casarão do Dr. Augusto Gonçalves

Memória Patrimônio e História local

Histórico: “O Casarão do Dr. Augusto Gonçalves está localizado à Rua João de Cerqueira Lima, nº 123. Sua construção data do início do século XX e foi realizada para ser residência da família do Dr. Augusto de Souza Moreira, que ali residiu até o dia de sua morte, ocorrida no dia 20 de maio de 1924.

Após esta data o bem foi entregue à viúva e filhos de Dr. Augusto, D. Maria Augusta de Souza que permaneceu residindo o Casarão até o ano de 1949. Ano em que D. Maria Augusta de Souza vendeu o casarão para a Cia Industrial Itaunense, pelo valor de Cr$ 250.000,00 (Duzentos e cinquenta mil cruzeiros). D. Maria Augusta de Souza e seus filhos mudaram em definitivo para Belo Horizonte.

A escritura de compra e venda do imóvel, registrado no Cartório de Registro de Imóveis da Comarca de Itaúna, assim descreve o bem:
“um prédio de nº 123, com quatorze cômodos assoalhados, forrados na parte superior, com porão habitável, com três janelas e uma porta na frente, com instalações hidráulicas e elétricas.” (Cartório de Registro de Imóveis da Comarca de Itaúna, Livro 2DK, f. 147, matr. 24.347, 01/04/1992)

Após a compra, pela Cia Industrial Itaunense, o Casarão passou a ser utilizado pela empresa como escritório da Diretoria até a década de 1950. Na década de 1950, o porão habitável passou por adaptação para receber o escritório da Cia Industrial, enquanto que a casa principal passou a ser ocupado como sede da nova instalação do Serviço Social da Indústria – SESI de Itaúna. Outra parte do porão recebeu também, com as devidas adaptações, o Laboratório de Análise Clínicas sobre a direção do Dr. José de Campos.

Na década de 1970, o escritório da Cia Industrial Itaunense foi transferido para outro prédio, ficando no casarão apenas o escritório do Superintendente da Cia, Dr. Guaracy de Castro Nogueira, e o restante do casarão recebeu ampliação dos serviços odontológicos e de oficinas de costura e artes do SESI de Itaúna. Para efetivar esta ampliação das atividades do SESI, foram feitas mudanças sérias em sua estrutura interna, com remoção e construção de paredes. Nesta reforma da década de 1970 o Casarão perdeu a sua cúpula de metal (bronze, cobre, ou outro material), denominada de “torrinha” que foi removida por ordem do Dr. Guaracy alegando ser o lugar como “o maior depósito de morcegos da cidade” e que comprometia a saúde dos frequentadores do Casarão. O que foi feito desta “torrinha” não se sabe.

Além das atividades do SESI o casarão recebeu também uma tipografia onde se produzia os números do jornal da empresa “Voz Operária”, criado na década de 1970. Este jornal teve que mudar de nome por instrução do DOPS (Departamento de Operação de Política Social) que alegou ser o nome do jornal “Voz Operária” o nome de um jornal Comunista. Este jornal então teve o nome alterado para “Avante”. Mais tarde, na década de 1980 este jornal “Avante” recebe outro nome, adora de “O Itaunense”. Na Década de 1980 o SESI foi transferido para novas instalações e o Casarão voltou a ser ocupado pelo escritório da Cia Industrial Itaunense, até a década de 1990 quando a Cia entrou com pedido de falência, passando a pertencer a “massa falida”, e vendida para pagamento das despesas com fornecedores e credores da Cia. Considerando os elementos arquitetônicos, o Casarão do Dr. Augusto, como é chamado até hoje, é representante do ecletismo típico do início do século XX. Mesmo depois de tantas interferências o casarão manteve traços significativos deste estilo, como por exemplo, a rica volumetria da fachada frontal com volumes e alturas diferenciada que dá destaque à área social em relação a área privativa do imóvel. Além disso a residência manteve os ricos acabamentos de alvenaria com gradeado em ferro e pilaretes. Sob o peitoral das janelas destacam-se os medalhões aplicados em argamassa com temas fitomorfos, e ornamentos em baixo relevo em formas geométricas.

Na parte frontal merece destaque o alpendre acessado por uma escadaria central, constituído de uma passarela em piso de ladrilho hidráulico, circuncidado com um gradil de ferro trabalhado e balaústres. O portão de acesso à casa possui desenho decorativo inscrito na folha de grade. A escadaria de acesso é ladeado de grades no guarda-corpo com acabamento de madeira como corrimão conectado no guarda-corpo do alpendre. A cobertura do alpendre apresenta decoração em madeira denominada de lambrequins que compõe com a mão francesa de ferro elemento decorativo harmônico típico do ecletismo do início do século XX.

Pela importância histórica desta casa para a vida da sociedade itaunense e pela riqueza dos elementos arquitetônicos nela expressa, o Casarão do Dr. Augusto foi Tombado pelo município no dia 05 de setembro de 2000.

No ano de 2014, o Codempace autorizou o novo proprietário a fazer intervenção no prédio. Esta intervenção acabou por modificar algumas características do ecletismo, embora boa parte ainda permaneceu e, por isso, o casarão continua a representar simbolicamente o estilo eclético da arquitetura do município.”

Texto retirado do Caderno do Patrimônio Cultural de Itaúna: Bens Patrimoniais Tombados e Registrados. Edição 01, Itaúna: Codempace, 2017.