Edifício do Museu Municipal “Francisco Manoel Franco”

Memória Patrimônio e História local

Histórico: “A chegada do primeiro trem em Itaúna aconteceu em 10 de março de 1910, e mesmo depois da carreira regular de trens de passageiros e de cargas, a agência, ou seja a estação, continuou a funcionar em um barracão pequeno construído nos primeiros anos de funcionamento. Posteriormente esta pequena estação foi ampliada e tornou-se no prédio novo, construído entre os anos de 1915 e 1917, sendo inaugurado em 1917.
A arquitetura eclética, movimento arquitetônico predominante desde meados do século XIX até as primeiras décadas do século XX, é resultante da mistura de estilos arquitetônicos do passado para a criação de uma nova linguagem arquitetônica, combinando elementos que podiam vir da arquitetura clássica, medieval, renascentista, barroca e neoclássica. Este ecletismo nacional se desenvolveu com uma íntima relação com a chamada arquitetura historicista, que buscava reviver a arquitetura antiga e gerou os estilos “neos” (neogótico, neoromânico, neo-renascença, neobarroco, neoclássico etc), tudo isso sem perder de vista os avanços provenientes da engenharia do início do século XX e a da utilização de novos materiais que vinham sendo utilizados pela indústria da construção civil, como por exemplo, a utilização de estruturas de ferro forjado, que pode ser observado nos ornamentos do toldo metálico e nos portões da Estação Ferroviária. Assim, além do uso e mistura de estilos estéticos históricos, a arquitetura eclética de maneira geral se caracterizou pela simetria, busca de grandiosidade, rigorosa hierarquização dos espaços internos e riqueza decorativa.
No Brasil, a arquitetura eclética foi uma tendência dentro do chamado academicismo propagado pela Academia Imperial de Belas Artes e pela sua sucessora, a Escola Nacional de Belas Artes, ao longo do século XIX.
Inserida neste contexto e seguindo as tendências arquitetônicas da época, buscando simbolizar o desenvolvimento e o progresso típicos dos anos iniciais da República, a edificação do Prédio da Estação Ferroviária é um dos mais belos exemplares da arquitetura eclética em Itaúna, a qual vem resistindo ao tempo e à modernização. Por este motivo é que se ressalta a necessidade de sua preservação.
A inauguração deste novo e moderno edifício ocorreu em 4 de março de 1917, na administração Agostinho Porto, sendo motivo de grande festividade, contando com a presença de pessoas gradas de Belo Horizonte e dos municípios vizinhos.
Além disso, a construção deste edifício para servir de Estação não se trata de uma construção isolada, com ela vieram a construção de um conjunto de casas, galpões e escritórios para instalação da estrutura de um novo Departamento da Empresa Ferroviária Oeste de Minas. E a vinda desta estrutura departamental para Itaúna foi resultado do esforço do poder público da época chefiado por Dr. Augusto Gonçalves e Senócrit Nogueira que conseguiram, através da Câmara Municipal a doação do terreno.
A Construção da Estação Ferroviária e a instalação do Departamento da Oeste de Minas em Itaúna deve ser considerada símbolo da primeira fase de crescimento e da industrialização de Itaúna – a Fiação e tecelagem, além de representar as inovações nos diversos aspectos da cidade. De modo particular, as inovações que influenciaram diretamente na arquitetura, observando-se um novo repertório formal sob a influência arquitetônica da capital mineira, trazidas pelos construtores e mestres de obras estrangeiros, principalmente, os italianos. Destacou-se em Itaúna o arquiteto italiano Baldissara1 , responsável pelos principais projetos residenciais e institucionais da arquitetura eclética.
A construção do prédio da antiga Estação Ferroviária, hoje Museu Municipal Francisco Manoel Franco, no ano de 1917, foi responsável pelo surgimento de uma estética urbana e arquitetônica. Fato, este, que nos faz reconhecer que a construção de um edifício representa mais do que sua finalidade prática. E esta representação simbólica, inerente à própria história da coletividade é que justifica a sua preservação e a sua manutenção como Patrimônio Histórico Cultural, efetivada no Decreto Municipal nº. 4920, de 20 de outubro de 2006.
Até o início da década de 80, Itaúna foi servida pelos trens de passageiros. Atualmente, passam pela cidade apenas os trens de carga. Com esta mudança nos rumos dos serviços de transporte do país a Estação foi abandonada e o movimento da Estação foi todo transferido para seu novo pátio operacional entre os bairros Irmãos Auler e Leonani, ficando a Estação Ferroviária fechada e abandonada.
A ideia de revitalização do espaço ganhou força quando foi efetivado, pela administração pública, a compra de um riquíssimo acervo fotográfico do fotógrafo Benevides Garcia. Após alguns contatos com a RFFSA a Prefeitura conseguiu assinar em 29/03/90 um contrato de comodato se responsabilizando pela preservação do prédio, sendo o Museu Municipal criado pela Lei 2.570, em 18 de setembro de 1992.
As obras de restauração do prédio foram executadas através de assessoria de restauração e museologia da Preserfe, órgão responsável pelo patrimônio da RFFSA, mantendo-se a originalidade da arquitetura. Na parte interna da edificação foi preciso realizar algumas modificações e adaptações para abrigar o Museu Municipal.
Além do acervo fotográfico foram doados, também, para o futuro Museu um gabinete odontológico do início do século XX, uma coleção de livros do historiador itaunense João Dornas Filho. Com o tempo o Museu passou a receber inúmeras doações, compras e empréstimos tornando-se detentor de um rico acervo de peças e documentos (sendo as doações em maior proporção). A maioria das peças já estão inventariadas pelo município.
O Museu Municipal Francisco Manoel Franco tem sob a sua guarda registros materiais que documentam diferentes aspectos da cultura itaunense. O acervo é bastante heterogêneo, abrangendo diversas categorias e suportes, a exemplo de objetos históricos, artísticos, etnológicos e etnográficos. Seu objetivo está fundamentado na preservação, conservação e exposição de objetos que retratam a história itaunense, com o intuito de perpetuação da memória e da identidade local. Seu acervo é de característica antropológica/etnográfica. Os objetos são expostos de forma a criar ambientes com intuito de oferecer informação, pesquisa, educação e lazer. A disposição é por critério temático, formado pelas seguintes categorias: Arte sacra; Utensílios domésticos; Comunicação; Objetos cerimoniais/ religiosos; Objetos pessoais; Arte e Ofício; Mobiliário; Esculturas; Objetos/ pertences Festas Tradicionais; Objetos da RFFSA; Acervo Fotográfico; Objetos musicais; Instrumentos médicos/ farmacêuticos/odontológicos; Transportes; Objetos cinematográficos/ fotográficos; Maquinários/ Industriais.
A destinação do Edifício como sede do Museu Municipal Francisco Manoel Franco, constitui em si, uma maneira de garantir a preservação e conservação deste exemplar da arquitetura eclética para as futuras gerações.”

Texto retirado do Caderno do Patrimônio Cultural de Itaúna: Bens Patrimoniais Tombados e Registrados. Edição 01, Itaúna: Codempace, 2017.